24 de maio de 2011

SEPULTAMENTO OU CREMAÇÃO?

Um dos membros mais velhos da nossa família disse que, quando morrer, gostaria de ser cremado em vez de sepultado. O pedido gerou uma grande discussão entre nós. Todos somos cristãos. Tem a Bíblia alguma orientação sobre este assunto tão delicado?
Os adventistas do sétimo dia nunca tomaram uma posição sobre cremação, porque a nossa compreensão bíblica acerca da morte e ressurreição faz com que o assunto perca a sua importância (veja Job 19:27; Daniel 12:2; Lucas 24:39). Contrários à ideia de uma dicotomia entre corpo e alma, afirmamos que o ser humano tem uma existência física tanto antes da morte como na ressurreição. O Deus que nos criou no princípio é igualmente capaz de nos recriar das cinzas da incineração, ou do pó que resulta do lento processo da decomposição. Todas as substâncias orgânicas retornam aos seus elementos básicos. A única diferença é sobre quanto tempo isso leva.
Na verdade, não defendemos a ideia de que na ressurreição o novo ser será composto das mesmas células e átomos que antes lhe formavam o corpo. As células morrem e os átomos se dispersam, e a restauração de uma pessoa não consiste apenas na reunião e reestruturação dos átomos, mas na expressão do poder criativo de Deus, não importando quais átomos estejam envolvidos (Salmo 104:29-30). Sabemos que cada ser vivo é um conduto por onde novos átomos entram enquanto que os velhos se dispersam, de modo que, numa escala maior, em 10 anos cada pessoa será composta por átomos inteiramente diferentes.
A pessoa que morre permanece na mente de Deus e, por meio de Seu poder criador, Ele haverá de restaurar-lhe a vida segundo a Sua vontade, num novo corpo isento dos efeitos dos pecado (I Coríntios 15:52). Na ressurreição, o Criador não depende de elementos previamente existentes.
Alguns dentre nós têm usado Amós 2:1 para se opor à prática da cremação. O profeta afirma que Deus Se irou contra Moabe “porque queimou os ossos do rei de Edom, até os reduzir a cal” (ARA). O principal problema de interpretação nesse texto é a frase “até os reduzir a cal”, que reflete com precisão o texto hebraico. O substantivo sid não significa “cinzas” mas “cal”. A cal era usada para rebocar paredes e pedras. Alguns têm sugerido que, nesse caso em particular, os ossos foram queimados ou calcinados para se obter cal. Seja como for, não há dúvida de que Moabe é reprovado por causa do seu desprezo para com os restos mortais humanos. Portanto, o profeta está a referir-se a um ato de ódio e vingança que resultou no desrespeito para com a dignidade humana. Isso não é o que chamaríamos de cremação.
Cremação, propriamente dita, pode ser um ato de piedade. Em I Samuel 31:11-13 lemos como os israelitas tomaram o corpo de Saul e os seus filhos “do muro de Bete-Seã e os levaram para Jabes, onde os queimaram” (NVI). Esse não foi um ato de vingança, mas uma maneira adequada de pôr fim à humilhação de um corpo humano, nesse caso, o do primeiro rei de Israel.
Para alguns cristãos, a questão do sepultamento em lugar da cremação é muito importante. Eles notam que a cremação é adotada em países como Índia e China, cuja cultura predominante não é cristã. Na verdade, esses países superpopulosos já enfrentaram há muito tempo o dilema de poucas terras férteis e a necessidade de cemitérios, introduziram na sua religião a noção da cremação, compreendida em termos de uma espécie de purificação pelo poder do fogo. Do ponto de vista científico, esse método oferece vantagens relacionadas com a prevenção de infecções. É fato que na tradição judaica os mortos eram consistentemente sepultados, costume esse que foi incluído nos cânones católicos e assim perpetuados na comunidade cristã. Mas, quando analisado à luz de nossa compreensão acerca de como Deus age, a cremação não representaria nenhum problema.
Hoje em dia, cerca de 50% das pessoas que morrem nos Estados Unidos são cremadas, principalmente por causa dos altos custos envolvidos num sepultamento. A cremação, em geral, não custa mais de 10% do valor de um sepultamento. Em relação a esse assunto, os adventistas permitem que os seus membros sigam a consciência, e pelas razões acima citadas será difícil adotarmos uma posição oficial a esse respeito.
George W Reid (Th D. pelo South-western Baptist Theological Seminary) atuou por 20 anos como diretor do Biblical Research Institute da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia.